Carcinoma Mamário com Metástase Pulmonar em Felino
Introdução
O tumor mamário em gatas é o terceiro mais comum na espécie. Sua incidência só é menor que as neoplasias hematopoiéticas e cutâneas. No entanto, a grande maioria dos tumores de mama é maligna (DALECK; DE NARDI; RODASKI, 2008). A neoplasia epitelial maligna apresenta um elevado potencial metastático e alta taxa de mortalidade, representando um prognóstico bastante desfavorável. O intervalo entre a detecção do tumor maligno e a morte dos gatos afetados pode variar de 6 a 12 meses (SOUZA, 2003). NELSON e COUTO, 2006, afirmam que os tumores são geralmente discretos, firmes e nodulares, e podem ser constatados ao longo da cadeia mamária. Para SOUZA, 2003, as tumorações mamárias não demonstram uma grande variedade de tipos morfológicos como no cão, assim como o nódulo tumoral da paciente que era único e ulcerado.
Como exames complementares, foi feita radiografia lateral de tórax, a qual sugeriu metástase, e também sendo procedida uma Citologia Aspirativa por Agulha Fina (CAAF) do pulmão e mandado para exame citopatológico, que constatou uma metástase pulmonar sugestiva de neoplasia epitelial maligna. O tratamento do câncer envolve uma abordagem multidisciplinar. Em geral, neoplasias largamente disseminadas e/ou metastáticas podem apenas ser tratadas com quimioterapia (SOUZA, 2003). Esse trabalho tem como objetivo relatar o caso de um felino tratado com quimioterápico para a patologia carcinoma mamário com metástase pulmonar, a qual não pode ser realizada retirada cirúrgica.
Material e Métodos
Foi trazido à Clínica Chatterie Saúde do Gato, um felino, fêmea, sem raça definida (SRD), castrada, 14 anos de idade, 4,5 kg de peso corporal, tendo como queixa principal um suposto tumor ulcerado há uma semana na cadeia mamária esquerda. Este havia aparecido a cerca de seis meses conforme relatado pelo proprietário. Além disso, o animal encontrava-se com dificuldade respiratória, inapetente e abatido. Urinava normalmente, mas estava defecando menos e em menor quantidade.
No exame clínico observou-se uma massa ulcerada na cadeia mamária esquerda e os mamilos da mesma cadeia mamária estavam eritematosos e edemaciados (Figura 1). Aparentemente a paciente encontrava-se em bom estado físico. Na palpação foi observado aumento de linfonodos axilares. Verificou-se então, temperatura retal (TR) que estava em 38,7°C, frequência cardíaca (FC) de 178 batimentos por minuto (bpm) e frequência respiratória (FR) que constava com 27 movimentos respiratórios por minuto (mpm).
Percebeu-se que o animal estava apático e sem muitas reações. Também foi observado dispnéia com movimentos respiratórios rápidos e superficiais. Optou-se primeiramente por estabilizar o animal com oxigenioterapia e fluidoterapia (ringer e vitamina B) e após, pela internação da paciente. Depois dos primeiros cuidados, foi feita a realização de exames complementares, como hemograma e bioquímicos.
Resultados e Discussão
Os resultados dos exames revelaram o hemograma dentro parâmetros fisiológicos para a espécie e os exames bioquímicos séricos demonstraram que a creatinina estava em 0,96 mg/dL, também dentro do padrão normal para a espécie. Após estes resultados foram feitos também, radiografia lateral de tórax e exame Citologia Aspirativa por Agulha Fina do pulmão, sendo este último encaminhado para um laboratório terceirizado. O exame radiográfico apresentou um padrão compatível com metástase pulmonar difusa avançada (Figura 2), enquanto que, o exame citológico sugeriu tratar-se de neoplasma epitelial maligno possivelmente uma metástase de carcinoma mamário.
Depois dos resultados dos exames, o animal foi submetido à quimioterapia com cloridrato de mitoxantrona 6,5 mg/m². A terapêutica indicada foi de 4 sessões de quimioterapia, uma a cada 28 dias. Foi então realizada a primeira sessão de quimioterapia um dia após a primeira consulta, mas o felino não resistiu e veio a óbito quatro dias após a primeira dose. Não foi permitido necrópsia.
O tratamento do câncer envolve uma abordagem multidisciplinar. Em geral, neoplasias largamente disseminadas e/ou metastáticas podem apenas ser tratadas com quimioterapia. Tumores bem localizados que ainda não invadiram extensivamente tecidos adjacentes são melhores tratados cirurgicamente. Tumores bem localizados e superficiais, mas localmente invasivos, são melhores tratados com radioterapia (SOUZA, 2003). A excisão cirúrgica é o tratamento mais utilizado.
No entanto, a cirurgia isolada geralmente não proporciona a cura do paciente. Sempre que possível, indica-se o uso da quimioterapia adjuvante no pósoperatório, na tentativa de proporcionar aumento da sobrevida desse paciente (DALECK; DE NARDI; RODASKI, 2008). Não optou-se por fazer cirurgia de exérese de mama na paciente, pelo fato de que já havia metástase no pulmão e pela idade em questão, pois tumores malignos são vistos normalmente em gatas mais velhas com um média de idade de 10 e 12 anos, também podendo acontecer em gatas de 9 meses até 23 anos de idade (DALECK; DE NARDI; RODASKI, 2008; LITTLE, 2012).
O diagnóstico orienta-se à determinação da extensão da doença e estabelecimento do quadro. O proprietário deve ter observado o tumor ou ele pode ter sido achado acidentalmente durante um exame físico de rotina (BIRCHARD & SHERDING, 1998). No caso da paciente relatada o proprietário havia observado o tumor já ulcerado, o qual resultou em um prognóstico desfavorável devido ao caráter maligno da neoplasia e o atraso em sua detecção. O histórico do paciente e uma anamnese completa, incluindo idade, condição sexual e fase do ciclo estral, são muito importantes, pois o maior índice de tumoração é observado durante o estro, onde a concentração de estrógeno é maior.
A duração dos sinais clínicos também é importante no auxilio para estabelecer o prognóstico e a conduta terapêutica efetiva. Deve-se das uma atenção particular aos linfonodos regionais e outros possíveis locais de metástases, os quais, se alterados devem ser aspirados ou sofrer biópsia. O estudo radiológico ou ultrassonográfico das cavidades torácica e abdominal deve ser realizado, à procura de metástases distantes, pois cerca de 25% a 50% dos casos de neoplasias mamárias malignas fazem metástase para o tórax. Além de exames hematológicos e bioquímicos para se conhecer o estado geral do paciente e servir de guia para a escolha da terapia clínica e cirúrgica (SOUZA, 2003; GONÇALVES, 2008).
Conclusão
Nos casos de neoplasia mamária maligna, como o caso do felino relatado, é muito importante o tratamento adequado, pois é uma doença de progressão discreta e desenvolvimento minucioso. Quanto antes foi feito o diagnóstico, o que muitas vezes é tardio nos animais, mais chances de tratamento e prolongamento da vida e bem-estar do animal. O prognóstico de cura do câncer de mama em felinos é baixo, e cabe a nós optar pela melhor terapêutica para nossos pacientes.
Referencias bibliográficas
- BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Manual Saunders: Clínica de Pequenos Animais. 1ª ed. São Paulo: Roca, 1998.
- DALECK, C. R; DE NARDI, A. B; RODASKI, S. Oncologia em Cães e Gatos. 1ª ed. São Paulo: Ed. Roca, 2008.
- GONÇALVES, D. G. Levantamento de Casos de Neoplasia Mamária em Felinos, Diagnosticados no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, no período de 2003-2007. Monografia de conclusão de curso. 2008. Disponível pelo link. Acessado em: 3 jun. 2013.
- LITTLE, S. E. The Cat: Clinical Medicine and Management. Elsevier Health Science – Saunders, 2012.
- NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais, 3ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
- SOUZA, H. J. M. de. Coletâneas em medicina e cirurgia felina. Rio de Janeiro: L. F. Livros de veterinária, 2003
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